segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Relatos de uma peregrinação à Aparecida

Tudo bom?
Eu estou aqui mais para lá do que para cá, onde encosto durmo!!!
Foram 2 dias muitooooooo intensos! Uma experiência única e só quem passou é que vai conseguir entender todas as emoções que eu senti durante esta peregrinação.
Pela primeira vez vi claramente a providência Divina totalmente em ação!
Vamos lá, começando pelo princípio:
Não fui eu quem decidiu ir a Aparecida! Não tenho nenhuma adoração especial por Aparecida e não gosto muito do Santuário!
Foi Deus quem quis que eu fosse a Aparecida e deixou essa sua vontade de forma bem clara de forma que eu tive mesmo de ir.
Nas minhas idas para São Paulo durante a semana eu via os peregrinos pela Dutra e aquilo foi criando uma vontade em mim. Coincidentemente a Joanina falou que um casal amigo dela (Helaine e o Leandro) iam num grupo de mais ou menos 100 pessoas.
Na sexta durante a tarde fui ao centro comprar um boné branco, as faixas refletoras (a compra das faixas foi uma aventura à parte), barras energéticas e de cereais e água. Passei no Padre Guilherme para lhe dar um abraço.
Entretanto a Joanina descobriu que era preciso inscrever-me para que pudesse fazer a caminhada com o grupo, liguei para um tal de Amarildo e a comunicação entre mim e ele foi má, ele não me entendia e eu não o entendia, só entendi que ele já tinha 300 pessoas inscritas e não tinha mais lugar no ônibus para vir embora de Aparecida. Pedi para a Jô lhe ligar e combinar direito e aí lá vimos que era isso mesmo, podia ir com eles mas não tinha lugar no ônibus da volta. Era para eu estar às 22:30 num determinado lugar.
Às 21:30 tomei um banho, fizemos uma oração em família e lá fui sozinho ter com o grupo.
22:30 lá estava eu no lugar combinado e a  primeira surpresa: tinha muitaaaaaaaaaaaa gente!!! Gente de todas as idades, homens e mulheres! Juntei-me ao grupo e 2ª surpresa, o marido da amiga da Joanina era um tipo que sempre que eu ia aos recolhimentos conversava com ele. 
Conheci o Amarildo e a mulher dele e o homem era uma figura! Muito divertido!!!
Chega um Padre, dá uma benção geral para o pessoal todo, a seguir o Amarildo passa as orientações todas e.... começa a peregrinação!
O Leandro falou para eu ficar para trás que como era a primeira vez era melhor eu ir junto com o Amarildo. Tinha lá 2 velhinhos que eu pensei: estes nunca que vão chegar lá! (mas chegaram)
Nós fomos os últimos a sair: eu, Leandro, Amarildo e mais 2 figuras que não me lembro do nome, tudo na palhaçada a contar histórias. Só que eu ando rápido (achava que ia conseguir fazer o trajeto em 16h). A primeira parada ía ser num posto de gasolina que ficava a 25km de SJC. Chegamos lá relativamente tranquilos e tive o primeiro choque de realidade: eu já sabia mas não lembrava que os postos de gasolina na Dutra são muito maus, antigos e sujos! -Oh Nuno se ajeita aí, tenta dormir um pouco e depois seguimos! Não consegui dormir nada, a adrenalina era muita! Fiquei a ver com mais atenção as pessoas que estavam comigo, tudo gente muitooooo simples e humilde, mas todos gente muito boa!
6:00 da manhã vem o grupo de apoio e serve o pequeno almoço. Comemos e aí o portuga tem o seu momento portuga na academia: Fui alongar os músculos em cima de um bidão de água, o meu pé ficou preso no bidão e pumba caí com estrondo! O pessoal todo a rir e eu com o meu joelho a sangrar! Lá vem o Amarildo a rir: -olha e depois vocês não querem que eu conte anedota do portuga! - abre a mochila dele (parecia a mochila do Sport Billy tinha tudo lá!) e faz-me um curativo. Lá fomos nós novamente!
Segundo trecho, 15 kms! Foi de boa, eu e o Leandro chegamos lá rapidinho, descansamos um pouco e às 10h o apoio serviu o almoço!!! Aí o Leandro fala: oh descansa bem que a seguir vem a fase do desespero! Agora que tu vai ver se aguenta ou não!!!
Às 11:30 começa a etapa do desespero! Estavam 36º!! No asfalto deviam estar mais de 40º e tínhamos de caminhar cerca de 30km numa parte que não tinha uma única sombra, um posto para parar, nada!!! Ao fim de mais ou menos 10Km eu e o Leandro já estávamos os 2 mortos! Tudo doía! Tudo!!!! Aí do nada aparece uma farmácia! O moço que estava na porta fala: -entra aí irmão, aqui você vai encontrar tudo o que precisa! Lá atrás tem água bem fresquinha para você tomar!
Compramos anti-inflamatório e aquele spray para desportistas! Enchemos as nossas garrafinhas de água e lá voltamos!
Quando encontrávamos alguém que parecia estar em dificuldade parávamos para ajudar. Houve uma altura em que eu estava a andar um pouco mais à frente e do nada aparecem 2 senhoras: -tá difícil meu filho? Vai na fé que você consegue!!! Reza por mim lá!
Foi assim o caminho todo, quando as forças ou a fé começava a faltar, aparecia alguém e conversava, oferecia uma banana, ou uma água gelada! A meio da tarde, numa altura em que eu estava seriamente a pensar em desistir, aparece uma família numa kombi com fruta e água bem gelada, eu parei para trocar de meias e estava a pensar na minha desgraça e passa uma velhinha com 76 anos!!!! e que também estava a fazer a peregrinação! Ela que me deu força, calcei os tênis e volta para a estrada! Passado mais alguns Kms, as forças já estavam a faltar novamente e aparece uma outra família, oferecem-me pão com queijo e sumo de maracujá, eu não gosto de maracujá mas aquele sumo soube-me como os melhores néctares que já provei!
Às 18h chegamos no posto que marcava o fim da 2ª etapa! Tinham-nos prometido que dava para tomar um chuveiro nesse posto! Quando pousei a mochila e fui no banheiro tive a visão do inferno!!!!! Conhecem o filme Trainspotting? Aquela parte em que o gajo vai ao banheiro mais sujo da Escócia? Aquele banheiro era pior!!! Mil vezes pior!!! Era um cheiro de desmaiar! Saí rapidinho e vim-me sentar debaixo de uma árvore cá fora. Passado um pouco vem o Leandro e chama-me: -achei um lugar legal para tomarmos banho! O chuveiro de serviço das empregadas da lanchonete do posto! Lá fomos para o banho e aquilo tava inundado!!! água pelo tornozelo!! Mas a necessidade de passar uma água no corpo era maior! Lá nos despimos e entramos debaixo do chuveiro (pormenor: não havia portas, havia uma parede que separava o chuveiro da lanchonete, mas quem entrasse e olhasse para a entrada ia ver um monte de homem pelado! Como falou o Leandro: - Foi o melhor pior banho da minha vida!
Banhei, jantei e sentei debaixo de uma árvore, o Leandro adormeceu e eu também peguei no sono.
Lá partimos para a próxima etapa, agora era de noite e tudo estava mais fresco! As coisas foram tranquilas, só que o corpo estava cada vez mais cansado, a energia ia acabando, de vez em quando encontrávamos pessoas pelo caminho que precisavam de ajuda, ou porque estavam com bolhas ou câimbras ou apenas uma palavra de incentivo, nós parávamos para ajudar ou ajudávamos em andamento porque se a pessoa parasse não ia conseguir recomeçar.
 A meio da noite eu estava parado num pedágio e tinha lá um homem a incentivar as pessoas: -Parabéns peregrinos!!!! Vocês são uns heróis!!! Estão quase chegando!! Faltam só 8km!!! E oferecia um lanche.

Eu cheguei perto dele e disse-lhe faltavam 20km e não 8, ele olhou para mim riu e disse: -cara se eu falar pra eles que ainda faltam 20 esse povo desiste e volta pra trás!
Às 5h da manhã chegamos a Aparecida, quando vi a primeira placa meu coração encheu de alegria, tava a chegar!!!! Mas ainda não tínhamos chegado!!! Antes ainda tinha uma subidona!!! Daquelas que testa a nossa fé e determinação! Mil pensamentos passam pela cabeça: -já cheguei a aparecida, vou pedir boleia até ao santuário! Não, não posso, é só mais um último esforço!
Entrei no Santuário de Aparecida às 6:20 e o primeiro sentimento que tive foi de desilusão!!!!! Construíram um shopping popular dentro do shopping, entre outras coisas vendiam TAESERS!!! Vendiam cerveja!! Vi um tipo sentado dentro do santuário com 10 latas de cerveja!!! Mulherada sem noção vestida de mini saia e com altos decotes, não tinham a minima noção do lugar onde estavam!!! Aquilo não era um santuário, era um circo dos horrores! Comecei a assistir a missa das crianças mas o cansaço venceu e adormeci. A seguir eu e o Leandro fomos participar numa homenagem bonita a Nossa Senhora e depois foi a missa solene. Houve uma altura em que as minhas forças faltaram e eu senti que ía cair, uma velhinha que estava sentada perto de mim chamou-me e perguntou se eu queria sentar no lugar dela, agradeci mas continuei de pé.
No final era altura de vir para casa, tivemos uma última mortificação: ir para o ônibus!! Meus pés estavam cheios de bolhas, minha perna esquerda estava totalmente inchada, estavam 42º e nada de chegar no ônibus!! Foi difícil!!!
Na chegada a São José tivemos uma surpresa muito simpática, numa pracinha do centro da cidade o povo tinha preparado um almoço, soltaram fogos e quando saíamos do ônibus batiam palmas! Foi uma emoção muito grande!!!
Durante a caminhada tinha gente boa e tinha gente muito má!! Apareciam evangélicos e diziam: -Meu Jesus morreu para que eu não tivesse de fazer isso!!!
Na altura do desespero apareceu uma mulher com uma Bíblia e falou: -filho conheça a verdadeira Bíblia, você não precisa de fazer isso!!!
Teve pessoas que nos tentavam atropelar! Mas nada disso abalou minimamente a caminhada!
Para fazer a peregrinação abandonei-me de tudo, todos os luxos e comidades, dormi debaixo de arvores, no asfalto e na terra! Mas em momento algum senti desconforto, nunca me faltou água e não passei fome em momento algum, o único dinheiro que gastei foram R$4 num gatorade. Tudo Deus e Nossa Senhora providenciaram para mim!
Foi dos momentos mais intensos e emocionantes da minha vida!
Grande abraço!


Amarildo, responsável pela caminhada

Mais fotos em: https://www.facebook.com/caminhada.doamarildo


Nuno Aguiar


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