quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Uma longa jornada



A ideia surgiu de repente. A peregrinação à Aparecida nunca foi um desejo profundo, talvez fosse mais uma curiosidade. Mas no decorrer deste ano fui vendo algumas situações, estando com pessoas que necessitavam de oração, de uma intercessão.
A partir daí surgiu não só o desejo, mas a determinação de ir ao Santuário de Aparecida a pé.
Então ..."A 11 de agosto, lá de São José, partiram três doidas, mas com muita fé! Ave, Ave, Ave Maria!":)

 
O padre Paulo Ricardo diz que nós não sabemos qual o valor que oração tem, mas que o demônio sabe e que faz de tudo para nos impedir de rezar. Acrescente ao valor da oração, um grande sacrifício...Acho que o demônio ficou furioso.
Lancei a ideia e a adesão não foi grande, nada grande. Aquele questionamento sempre existiu: será que vou dar conta? Será que consigo? Mas seu eu fosse ficar parada na dúvida, ficaria apenas na vontade de fazer. Então resolvi não pensar muito, mas rezar muito nesta intenção.
Comecei a oferecer a Missa, o terço e fui colocando tudo nas mãos de Deus e Nossa Senhora. Tínhamos um mês para nos preparar, e quanto mais se aproximava o dia, mais problemas iam surgindo.
Da adesão pequena, ainda tivemos três baixas. Erámos seis e ficamos apenas em três. Comecei a ficar preocupada e mandei uma mensagem a Monique dizendo: se sobrar só nós duas, você vai? Ela respondeu que sim. Então liguei para o meu marido e perguntei: se todas desistirem, você vai comigo? rsrsrsrs
Fiquei também preocupada com Sarah que havia começado a ter problemas no joelho nos treinamentos. E qual não foi a minha alegria ao ouvir dela durante a caminhada, que mesmo com o joelho inchado, decidiu participar mesmo assim. E quando tomou esta decisão o joelho melhorou.  Lição: quando você se decide por Deus, Ele também se decide por você e dá as graças necessárias.
O grande dia chegou e eu não dormi bem naquela noite, estava ansiosa demais pra isso. Acordei cedo e terminei de preparar as coisas e lá fui me encontrar com minhas companheiras de caminhada, Monique e Sarah. Combinamos de participar da Santa Missa no Alfa e de lá mesmo partiríamos. Padre Cesário celebrou a Missa e no final nos deu uma benção, que disse ser a benção dos pés. :)
Tomamos o nosso café muito animadas com algumas numerárias, nos preparamos e às 9 horas partimos.
Começamos a caminhar, continuamos a caminhar e nunca mais saíamos de São José. Daí eu pensei: se pra sair de São José tá demorando desse jeito, imagina pra chegar em Aparecida. rsrs
Hora rezávamos, hora conversávamos, hora caminhávamos em silêncio, mas em oração. Pouco antes do meio dia, o Herickson, esposo da Monique chegou para ser nosso apoio naquele dia. Almoçamos em Eugênio de Melo, descansamos um pouco, cuidamos dos pés, trocamos as meias e voltamos para a estrada. A parte da tarde sempre custa um pouco mais que a parte da manhã, mas o tempo estava bom e chegamos a paróquia Santo Antônio de Pádua pouco antes das 16 horas.
Lá nos receberam um casal muito simpático que eu conhecia apenas por telefone, seu Jacob e dona Neusa. Com quase 50 anos de casados, esse casal foi um grande exemplo pra nós. Foram sem dúvida duas pérolas que Deus colocou no nosso caminho. Quando chegamos tinham preparado um lanche e ela já tinha iniciado os preparativos para o jantar. O padre Décio veio lanchar e conversar um pouco conosco, enquanto a dona Neusa foi dar banho na mãe dele que sofre de Alzheimer e Parkinson. Foi, voltou e terminou de preparar o nosso jantar enquanto tomávamos banho e descansávamos um pouco.
Jantaram conosco, contaram um pouco da vida deles, dos netos (um deles apareceu durante o jantar, e dona Neusa só sossegou depois que o convenceu a comer rs). Ela também falou que não tinha dormido naquele noite porque ficou tomando conta da mãe do padre. Que tinha feito o almoço cedo, posto a mesa e avisou ao marido que iria dormir um pouco. Quando acordou, próximo das 14 horas,  ele não tinha almoçado e questionando sobre o motivo ele disse: você sabe que não como sem você. Olhei para as minhas companheiras e sorrimos uma para a outra. Era quase que palpável o amor, o carinho e o respeito que um tinha pelo outro, e através do cuidado deles pude sentir o cuidado de Deus e Nossa Senhora por nós.
Fomos dormir e para nossa alegria havia camas!! Uma de casal no andar inferior e uma de solteiro no andar superior. Mas naquele momento estávamos mais unidas que a Santíssima Trindade, então colocamos os colchões na sala e dormimos uma do lado da outra.
Dormi bem o primeiro sono, o resto foi muito picado. Ao acordar e conversar com minhas companheiras, logo vi que a única que tinha dormido bem era a Monique. Que inveja!
Às 6:30 horas lá estavam o seu Jacob e a dona Neusa preparando o nosso café. Tomamos juntos aquela refeição e como o caminho naquele dia era longo, logo tivemos que nos despedir. Comecei a chorar, a Sarah olhou para o lado pra segurar as lágrimas também. O tempo com aqueles dois foi curto, mas profundo. Deram nos uma lição de bondade e desprendimento.
Entramos na igreja que já estava aberta e fomos falar com Jesus antes de sairmos. Às 7:30 horas partimos.
Estava um ótimo dia para caminhar e caminhamos por duas horas até fazermos a primeira parada e no momento que paramos, chegou o Nuno, meu marido, para nos apoiar naquele dia, juntamente com meu filho Filipe. Veio primeiro ver se estávamos bem e depois retornou para pegar nossas coisas na paróquia. Quando voltou perguntou se éramos realmente só três, porque tinha muita coisa. :)
E assim de cajado na mão e terço na outra, seguimos em frente. Ver placas de limite município ou paradas de ônibus, pra nós era motivo de grande alegria. Combinamos de almoçar no Taubaté Shopping e quando já estávamos na cidade, o Nuno disse:  agora vocês estão perto, mais meia hora e chegam lá. Vou voltar a São José pra buscar o Mateus.
Hunf, só se for meia hora de carro. Vocês não tem noção de como demoramos pra chegar a esse shopping.
Finalmente depois de um longo tempo chegamos, almoçamos, descansamos e toca a cuidar dos pés, afinal, ainda precisaríamos muito deles.
Por volta das 14 horas voltamos a caminhar. Foi uma tarde longa e difícil e demoramos para atravessar a cidade. Ás vezes eu dizia: vamos lá meninas, vamos cantar aquela música pra animar: o povo de Deus no deserto andava... rsrsrs e seguíamos. A cada nova cidade que conseguíamos chegar era uma vitória. Passamos pelos presídios em Tremembé rezando o terço e nessa altura o cansaço já era muito grande. Pedi orações e rezei pedindo forças a Deus. Pensei em entrar no carro de apoio e terminar o trajeto, pensei que não aguentaria, que tudo aquilo era loucura... Daí me lembrei que o Nuno sempre disse que não é força física que te faz chegar, é a fé.
Realmente força física eu já não tinha, mas tinha fé e essa fé me fez dar um passo após o outro. Pensar no amor que Deus tem por mim me fez seguir adiante, pensar nas pessoas que me pediram oração e naquelas por quem eu tinha me proposto rezar me fez continuar. Cada buzinada de carro, cada aceno, cada "Deus te abençoe", "Deus te acompanhe", cada incentivo dos nossos maridos e daqueles que ainda nos receberiam, nos ajudava a manter o passo. E assim, pouco antes das 18horas, lá estávamos com a família do seu Zé Roberto e dona Vanda.
Fomos muito bem recepcionadas, eles tinham preparado um "pequeno" lanchinho. A mesa era farta. Era visível que haviam preparado tudo com muito carinho e zelo.
A seguir fomos tomar banho e depois toca a comer novamente. Uma lasanha maravilhosa e depois sobremesa. Enquanto conversávamos com a dona Vanda e sua filha, seu Zé Roberto lavava a louça. Dona Vanda nos mostrou suas peças de artesanato. Coisas lindas!! Por volta então das 22 horas fomos dormir. Eu literalmente apaguei.

Às 6 horas da manhã meu despertador tocou e eu não tinha vontade alguma de me levantar. Meu corpo clamava por mais algumas horas na cama. Nos vestimos e fomos tomar café. Quando seu Zé Roberto se juntou a nós, demos um grande abraço nele, era dia dos pais. E dirigindo-se a esposa, olhou pra nós e disse: só sou pai porque esta mulher aceitou ser mãe. E deu um beijo na esposa. Achei lindo e suspirei!
Depois fomos para a Missa e conhecemos o padre Joaquim. Ofereceram a Missa por nós e no final o padre chamou seu Zé Roberto que nos apresentou a comunidade. Voltamos, trocamos a roupa, arrumamos as coisas e às 10 horas partimos. Eu como sempre, debaixo de lágrimas. Haviam ainda 34km a serem percorridos. Nuno e o Snard, esposo da Sarah já haviam chegado para nos acompanhar.
Ao contrário dos outros dias, o sol estava forte. Próximo ao meio dia paramos para almoçar e às 13 horas já estávamos na estrada outra vez. Muito sol, pouca sombra, pernas dando sinais de exaustão. O Nuno e o Snard apareceram com picolés, o que nos alegrou bastante.
Houve um momento em que a Sarah começou a sentir-se mal, e meus pés começaram a fazer bolhas. O Nuno dizia: essa é a hora da provação. A Sarah precisou de remédios e eu não ousei tirar o tênis do pé, não valia a pena. Perguntei a Sarah se ela queria ir no carro de apoio até o remédio fazer efeito, mas a guerreira disse que não.
Passamos por Moreira Cesar e chegamos a Roseira. Já não pisava direito no chão. Caminhava em silêncio e pensava na Cruz de Cristo e repetia: assim como o Senhor por amor não desistiu da cruz, por amor eu também não desistirei. Caminhava não sei como e oferecia aquelas dores.

Houve uma hora, acho que pra poder puxar por nós, o Nuno disse que chegaríamos lá pelas 20 horas e que nem sabia se o Santuário estaria aberto. rsrsrsrs
Chegamos à Aparecida. Entramos na cidade, mas ainda era preciso chegar ao Santuário. Havia aquelas placas pra animar romeiro dizendo: você está a 3km, 2km...mas naquela altura já estávamos expert em distância e sabíamos que era mentira.
Os três maridos já estavam lá nos dando força, nos incentivando nos últimos passos. Entramos no estacionamento e caminhávamos tão rápido que o Snard disse: tá difícil de acompanhar vocês.
E finalmente, de braços dados, nós três entramos no Santuário. Difícil descrever a emoção, não foi como das outras vezes.

Fomos até o Santíssimo e em seguida até a imagem. Ali de joelhos, chorando muito, só conseguia dizer: Mãe cheguei, Mãe estou aqui. Permanecemos ali um certo tempo. Coloquei no colo da Mãe todas as intenções, clubes, colégio, pessoas, situações, vocações...Não ousei pedi nada por mim, porque olhando para aquela longa jornada, sabia que já tinha recebido muito mais do que aquilo que eu poderia desejar.
Por amor não desistimos desta santa loucura! Obrigada meu Deus, obrigada minha Nossa Senhora Aparecida por essa longa jornada.





segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Relatos de uma peregrinação à Aparecida

Tudo bom?
Eu estou aqui mais para lá do que para cá, onde encosto durmo!!!
Foram 2 dias muitooooooo intensos! Uma experiência única e só quem passou é que vai conseguir entender todas as emoções que eu senti durante esta peregrinação.
Pela primeira vez vi claramente a providência Divina totalmente em ação!
Vamos lá, começando pelo princípio:
Não fui eu quem decidiu ir a Aparecida! Não tenho nenhuma adoração especial por Aparecida e não gosto muito do Santuário!
Foi Deus quem quis que eu fosse a Aparecida e deixou essa sua vontade de forma bem clara de forma que eu tive mesmo de ir.
Nas minhas idas para São Paulo durante a semana eu via os peregrinos pela Dutra e aquilo foi criando uma vontade em mim. Coincidentemente a Joanina falou que um casal amigo dela (Helaine e o Leandro) iam num grupo de mais ou menos 100 pessoas.
Na sexta durante a tarde fui ao centro comprar um boné branco, as faixas refletoras (a compra das faixas foi uma aventura à parte), barras energéticas e de cereais e água. Passei no Padre Guilherme para lhe dar um abraço.
Entretanto a Joanina descobriu que era preciso inscrever-me para que pudesse fazer a caminhada com o grupo, liguei para um tal de Amarildo e a comunicação entre mim e ele foi má, ele não me entendia e eu não o entendia, só entendi que ele já tinha 300 pessoas inscritas e não tinha mais lugar no ônibus para vir embora de Aparecida. Pedi para a Jô lhe ligar e combinar direito e aí lá vimos que era isso mesmo, podia ir com eles mas não tinha lugar no ônibus da volta. Era para eu estar às 22:30 num determinado lugar.
Às 21:30 tomei um banho, fizemos uma oração em família e lá fui sozinho ter com o grupo.
22:30 lá estava eu no lugar combinado e a  primeira surpresa: tinha muitaaaaaaaaaaaa gente!!! Gente de todas as idades, homens e mulheres! Juntei-me ao grupo e 2ª surpresa, o marido da amiga da Joanina era um tipo que sempre que eu ia aos recolhimentos conversava com ele. 
Conheci o Amarildo e a mulher dele e o homem era uma figura! Muito divertido!!!
Chega um Padre, dá uma benção geral para o pessoal todo, a seguir o Amarildo passa as orientações todas e.... começa a peregrinação!
O Leandro falou para eu ficar para trás que como era a primeira vez era melhor eu ir junto com o Amarildo. Tinha lá 2 velhinhos que eu pensei: estes nunca que vão chegar lá! (mas chegaram)
Nós fomos os últimos a sair: eu, Leandro, Amarildo e mais 2 figuras que não me lembro do nome, tudo na palhaçada a contar histórias. Só que eu ando rápido (achava que ia conseguir fazer o trajeto em 16h). A primeira parada ía ser num posto de gasolina que ficava a 25km de SJC. Chegamos lá relativamente tranquilos e tive o primeiro choque de realidade: eu já sabia mas não lembrava que os postos de gasolina na Dutra são muito maus, antigos e sujos! -Oh Nuno se ajeita aí, tenta dormir um pouco e depois seguimos! Não consegui dormir nada, a adrenalina era muita! Fiquei a ver com mais atenção as pessoas que estavam comigo, tudo gente muitooooo simples e humilde, mas todos gente muito boa!
6:00 da manhã vem o grupo de apoio e serve o pequeno almoço. Comemos e aí o portuga tem o seu momento portuga na academia: Fui alongar os músculos em cima de um bidão de água, o meu pé ficou preso no bidão e pumba caí com estrondo! O pessoal todo a rir e eu com o meu joelho a sangrar! Lá vem o Amarildo a rir: -olha e depois vocês não querem que eu conte anedota do portuga! - abre a mochila dele (parecia a mochila do Sport Billy tinha tudo lá!) e faz-me um curativo. Lá fomos nós novamente!
Segundo trecho, 15 kms! Foi de boa, eu e o Leandro chegamos lá rapidinho, descansamos um pouco e às 10h o apoio serviu o almoço!!! Aí o Leandro fala: oh descansa bem que a seguir vem a fase do desespero! Agora que tu vai ver se aguenta ou não!!!
Às 11:30 começa a etapa do desespero! Estavam 36º!! No asfalto deviam estar mais de 40º e tínhamos de caminhar cerca de 30km numa parte que não tinha uma única sombra, um posto para parar, nada!!! Ao fim de mais ou menos 10Km eu e o Leandro já estávamos os 2 mortos! Tudo doía! Tudo!!!! Aí do nada aparece uma farmácia! O moço que estava na porta fala: -entra aí irmão, aqui você vai encontrar tudo o que precisa! Lá atrás tem água bem fresquinha para você tomar!
Compramos anti-inflamatório e aquele spray para desportistas! Enchemos as nossas garrafinhas de água e lá voltamos!
Quando encontrávamos alguém que parecia estar em dificuldade parávamos para ajudar. Houve uma altura em que eu estava a andar um pouco mais à frente e do nada aparecem 2 senhoras: -tá difícil meu filho? Vai na fé que você consegue!!! Reza por mim lá!
Foi assim o caminho todo, quando as forças ou a fé começava a faltar, aparecia alguém e conversava, oferecia uma banana, ou uma água gelada! A meio da tarde, numa altura em que eu estava seriamente a pensar em desistir, aparece uma família numa kombi com fruta e água bem gelada, eu parei para trocar de meias e estava a pensar na minha desgraça e passa uma velhinha com 76 anos!!!! e que também estava a fazer a peregrinação! Ela que me deu força, calcei os tênis e volta para a estrada! Passado mais alguns Kms, as forças já estavam a faltar novamente e aparece uma outra família, oferecem-me pão com queijo e sumo de maracujá, eu não gosto de maracujá mas aquele sumo soube-me como os melhores néctares que já provei!
Às 18h chegamos no posto que marcava o fim da 2ª etapa! Tinham-nos prometido que dava para tomar um chuveiro nesse posto! Quando pousei a mochila e fui no banheiro tive a visão do inferno!!!!! Conhecem o filme Trainspotting? Aquela parte em que o gajo vai ao banheiro mais sujo da Escócia? Aquele banheiro era pior!!! Mil vezes pior!!! Era um cheiro de desmaiar! Saí rapidinho e vim-me sentar debaixo de uma árvore cá fora. Passado um pouco vem o Leandro e chama-me: -achei um lugar legal para tomarmos banho! O chuveiro de serviço das empregadas da lanchonete do posto! Lá fomos para o banho e aquilo tava inundado!!! água pelo tornozelo!! Mas a necessidade de passar uma água no corpo era maior! Lá nos despimos e entramos debaixo do chuveiro (pormenor: não havia portas, havia uma parede que separava o chuveiro da lanchonete, mas quem entrasse e olhasse para a entrada ia ver um monte de homem pelado! Como falou o Leandro: - Foi o melhor pior banho da minha vida!
Banhei, jantei e sentei debaixo de uma árvore, o Leandro adormeceu e eu também peguei no sono.
Lá partimos para a próxima etapa, agora era de noite e tudo estava mais fresco! As coisas foram tranquilas, só que o corpo estava cada vez mais cansado, a energia ia acabando, de vez em quando encontrávamos pessoas pelo caminho que precisavam de ajuda, ou porque estavam com bolhas ou câimbras ou apenas uma palavra de incentivo, nós parávamos para ajudar ou ajudávamos em andamento porque se a pessoa parasse não ia conseguir recomeçar.
 A meio da noite eu estava parado num pedágio e tinha lá um homem a incentivar as pessoas: -Parabéns peregrinos!!!! Vocês são uns heróis!!! Estão quase chegando!! Faltam só 8km!!! E oferecia um lanche.

Eu cheguei perto dele e disse-lhe faltavam 20km e não 8, ele olhou para mim riu e disse: -cara se eu falar pra eles que ainda faltam 20 esse povo desiste e volta pra trás!
Às 5h da manhã chegamos a Aparecida, quando vi a primeira placa meu coração encheu de alegria, tava a chegar!!!! Mas ainda não tínhamos chegado!!! Antes ainda tinha uma subidona!!! Daquelas que testa a nossa fé e determinação! Mil pensamentos passam pela cabeça: -já cheguei a aparecida, vou pedir boleia até ao santuário! Não, não posso, é só mais um último esforço!
Entrei no Santuário de Aparecida às 6:20 e o primeiro sentimento que tive foi de desilusão!!!!! Construíram um shopping popular dentro do shopping, entre outras coisas vendiam TAESERS!!! Vendiam cerveja!! Vi um tipo sentado dentro do santuário com 10 latas de cerveja!!! Mulherada sem noção vestida de mini saia e com altos decotes, não tinham a minima noção do lugar onde estavam!!! Aquilo não era um santuário, era um circo dos horrores! Comecei a assistir a missa das crianças mas o cansaço venceu e adormeci. A seguir eu e o Leandro fomos participar numa homenagem bonita a Nossa Senhora e depois foi a missa solene. Houve uma altura em que as minhas forças faltaram e eu senti que ía cair, uma velhinha que estava sentada perto de mim chamou-me e perguntou se eu queria sentar no lugar dela, agradeci mas continuei de pé.
No final era altura de vir para casa, tivemos uma última mortificação: ir para o ônibus!! Meus pés estavam cheios de bolhas, minha perna esquerda estava totalmente inchada, estavam 42º e nada de chegar no ônibus!! Foi difícil!!!
Na chegada a São José tivemos uma surpresa muito simpática, numa pracinha do centro da cidade o povo tinha preparado um almoço, soltaram fogos e quando saíamos do ônibus batiam palmas! Foi uma emoção muito grande!!!
Durante a caminhada tinha gente boa e tinha gente muito má!! Apareciam evangélicos e diziam: -Meu Jesus morreu para que eu não tivesse de fazer isso!!!
Na altura do desespero apareceu uma mulher com uma Bíblia e falou: -filho conheça a verdadeira Bíblia, você não precisa de fazer isso!!!
Teve pessoas que nos tentavam atropelar! Mas nada disso abalou minimamente a caminhada!
Para fazer a peregrinação abandonei-me de tudo, todos os luxos e comidades, dormi debaixo de arvores, no asfalto e na terra! Mas em momento algum senti desconforto, nunca me faltou água e não passei fome em momento algum, o único dinheiro que gastei foram R$4 num gatorade. Tudo Deus e Nossa Senhora providenciaram para mim!
Foi dos momentos mais intensos e emocionantes da minha vida!
Grande abraço!


Amarildo, responsável pela caminhada

Mais fotos em: https://www.facebook.com/caminhada.doamarildo


Nuno Aguiar