Tudo bom?
Eu estou aqui mais para lá do que
para cá, onde encosto durmo!!!
Foram 2 dias muitooooooo intensos!
Uma experiência única e só quem passou é que vai conseguir entender todas as
emoções que eu senti durante esta peregrinação.
Pela primeira vez vi claramente a
providência Divina totalmente em ação!
Vamos lá, começando pelo princípio:
Não fui eu quem decidiu ir a
Aparecida! Não tenho nenhuma adoração especial por Aparecida e não gosto muito
do Santuário!
Foi Deus quem quis que eu fosse a
Aparecida e deixou essa sua vontade de forma bem clara de forma que eu tive
mesmo de ir.
Nas minhas idas para
São Paulo durante a semana eu via os peregrinos pela Dutra e aquilo foi criando
uma vontade em mim. Coincidentemente a Joanina falou que um casal amigo dela
(Helaine e o Leandro) iam num grupo de mais ou menos 100 pessoas.
Na sexta durante a tarde fui ao centro comprar um boné
branco, as faixas refletoras (a compra das faixas foi uma aventura à parte),
barras energéticas e de cereais e água. Passei no Padre Guilherme para lhe dar
um abraço.
Entretanto a Joanina descobriu que
era preciso inscrever-me para que pudesse fazer a caminhada com o grupo, liguei
para um tal de Amarildo e a comunicação entre mim e ele foi má, ele não me
entendia e eu não o entendia, só entendi que ele já tinha 300 pessoas inscritas
e não tinha mais lugar no ônibus para vir embora de Aparecida. Pedi para a Jô
lhe ligar e combinar direito e aí lá vimos que era isso mesmo, podia ir com
eles mas não tinha lugar no ônibus da volta. Era para eu estar às 22:30 num
determinado lugar.
Às 21:30 tomei um banho, fizemos uma
oração em família e lá fui sozinho ter com o grupo.
22:30 lá estava eu no lugar combinado
e a primeira surpresa: tinha
muitaaaaaaaaaaaa gente!!! Gente de todas as idades, homens e mulheres!
Juntei-me ao grupo e 2ª surpresa, o marido da amiga da Joanina era um tipo que
sempre que eu ia aos recolhimentos conversava com ele.
Conheci o Amarildo e a mulher dele e
o homem era uma figura! Muito divertido!!!
Chega um Padre, dá uma benção geral
para o pessoal todo, a seguir o Amarildo passa as orientações todas e....
começa a peregrinação!
O Leandro falou para eu ficar para trás
que como era a primeira vez era melhor eu ir junto com o Amarildo. Tinha lá 2
velhinhos que eu pensei: estes nunca que vão chegar lá! (mas chegaram)
Nós fomos os últimos a sair: eu,
Leandro, Amarildo e mais 2 figuras que não me lembro do nome, tudo na palhaçada
a contar histórias. Só que eu ando rápido (achava que ia conseguir fazer o
trajeto em 16h). A primeira parada ía ser num posto de gasolina que ficava a
25km de SJC. Chegamos lá relativamente tranquilos e tive o primeiro choque de realidade:
eu já sabia mas não lembrava que os postos de gasolina na Dutra são muito maus,
antigos e sujos! -Oh Nuno se ajeita aí, tenta dormir um pouco e depois
seguimos! Não consegui dormir nada, a adrenalina era muita! Fiquei a ver com
mais atenção as pessoas que estavam comigo, tudo gente muitooooo simples e
humilde, mas todos gente muito boa!
6:00 da manhã vem o grupo de apoio e
serve o pequeno almoço. Comemos e aí o portuga tem o seu momento portuga na
academia: Fui alongar os músculos em cima de um bidão de água, o meu pé ficou
preso no bidão e pumba caí com estrondo! O pessoal todo a rir e eu com o meu
joelho a sangrar! Lá vem o Amarildo a rir: -olha e depois vocês não querem que
eu conte anedota do portuga! - abre a mochila dele (parecia a mochila do Sport
Billy tinha tudo lá!) e faz-me um curativo. Lá fomos nós novamente!
Segundo trecho, 15 kms! Foi de boa,
eu e o Leandro chegamos lá rapidinho, descansamos um pouco e às 10h o apoio
serviu o almoço!!! Aí o Leandro fala: oh descansa bem que a seguir vem a fase
do desespero! Agora que tu vai ver se aguenta ou não!!!
Às 11:30 começa a etapa do desespero!
Estavam 36º!! No asfalto deviam estar mais de 40º e tínhamos de caminhar cerca
de 30km numa parte que não tinha uma única sombra, um posto para parar, nada!!!
Ao fim de mais ou menos 10Km eu e o Leandro já estávamos os 2 mortos! Tudo
doía! Tudo!!!! Aí do nada aparece uma farmácia! O moço que estava na porta
fala: -entra aí irmão, aqui você vai encontrar tudo o que precisa! Lá atrás tem
água bem fresquinha para você tomar!
Compramos anti-inflamatório e aquele
spray para desportistas! Enchemos as nossas garrafinhas de água e lá voltamos!
Quando encontrávamos alguém que
parecia estar em dificuldade parávamos para ajudar. Houve uma altura em que eu
estava a andar um pouco mais à frente e do nada aparecem 2 senhoras: -tá
difícil meu filho? Vai na fé que você consegue!!! Reza por mim lá!
Foi assim o caminho todo, quando as
forças ou a fé começava a faltar, aparecia alguém e conversava, oferecia uma
banana, ou uma água gelada! A meio da tarde, numa altura em que eu estava
seriamente a pensar em desistir, aparece uma família numa kombi com fruta e
água bem gelada, eu parei para trocar de meias e estava a pensar na minha
desgraça e passa uma velhinha com 76 anos!!!! e que também estava a fazer a
peregrinação! Ela que me deu força, calcei os tênis e volta para a estrada!
Passado mais alguns Kms, as forças já estavam a faltar novamente e aparece uma
outra família, oferecem-me pão com queijo e sumo de maracujá, eu não gosto de
maracujá mas aquele sumo soube-me como os melhores néctares que já provei!
Às 18h chegamos no posto que marcava
o fim da 2ª etapa! Tinham-nos prometido que dava para tomar um chuveiro nesse
posto! Quando pousei a mochila e fui no banheiro tive a visão do inferno!!!!!
Conhecem o filme Trainspotting? Aquela parte em que o gajo vai ao banheiro mais
sujo da Escócia? Aquele banheiro era pior!!! Mil vezes pior!!! Era um cheiro de
desmaiar! Saí rapidinho e vim-me sentar debaixo de uma árvore cá fora. Passado
um pouco vem o Leandro e chama-me: -achei um lugar legal para tomarmos banho! O
chuveiro de serviço das empregadas da lanchonete do posto! Lá fomos para o
banho e aquilo tava inundado!!! água pelo tornozelo!! Mas a necessidade de
passar uma água no corpo era maior! Lá nos despimos e entramos debaixo do
chuveiro (pormenor: não havia portas, havia uma parede que separava o chuveiro
da lanchonete, mas quem entrasse e olhasse para a entrada ia ver um monte de
homem pelado! Como falou o Leandro: - Foi o melhor pior banho da minha vida!
Banhei, jantei e sentei debaixo de
uma árvore, o Leandro adormeceu e eu também peguei no sono.
Lá partimos para a próxima etapa,
agora era de noite e tudo estava mais fresco! As coisas foram tranquilas, só
que o corpo estava cada vez mais cansado, a energia ia acabando, de vez
em quando encontrávamos pessoas pelo caminho que precisavam de ajuda, ou porque
estavam com bolhas ou câimbras ou apenas uma palavra de incentivo, nós
parávamos para ajudar ou ajudávamos em andamento porque se a pessoa parasse não
ia conseguir recomeçar.
Eu cheguei perto dele e disse-lhe
faltavam 20km e não 8, ele olhou para mim riu e disse: -cara se eu falar pra
eles que ainda faltam 20 esse povo desiste e volta pra trás!
Às 5h da manhã chegamos a Aparecida,
quando vi a primeira placa meu coração encheu de alegria, tava a chegar!!!! Mas
ainda não tínhamos chegado!!! Antes ainda tinha uma subidona!!! Daquelas que
testa a nossa fé e determinação! Mil pensamentos passam pela cabeça: -já
cheguei a aparecida, vou pedir boleia até ao santuário! Não, não posso, é só
mais um último esforço!
Entrei no Santuário de Aparecida às
6:20 e o primeiro sentimento que tive foi de desilusão!!!!! Construíram um
shopping popular dentro do shopping, entre outras coisas vendiam TAESERS!!!
Vendiam cerveja!! Vi um tipo sentado dentro do santuário com 10 latas de
cerveja!!! Mulherada sem noção vestida de mini saia e com altos decotes, não
tinham a minima noção do lugar onde estavam!!! Aquilo não era um santuário, era
um circo dos horrores! Comecei a assistir a missa das crianças mas o cansaço
venceu e adormeci. A seguir eu e o Leandro fomos participar numa homenagem
bonita a Nossa Senhora e depois foi a missa solene. Houve uma altura em que as
minhas forças faltaram e eu senti que ía cair, uma velhinha que estava sentada
perto de mim chamou-me e perguntou se eu queria sentar no lugar dela, agradeci
mas continuei de pé.
No final era altura de vir para casa,
tivemos uma última mortificação: ir para o ônibus!! Meus pés estavam cheios de
bolhas, minha perna esquerda estava totalmente inchada, estavam 42º e nada de chegar
no ônibus!! Foi difícil!!!
Na chegada a São José tivemos uma
surpresa muito simpática, numa pracinha do centro da cidade o povo tinha
preparado um almoço, soltaram fogos e quando saíamos do ônibus batiam palmas!
Foi uma emoção muito grande!!!
Durante a caminhada tinha gente boa e
tinha gente muito má!! Apareciam evangélicos e diziam: -Meu Jesus morreu para
que eu não tivesse de fazer isso!!!
Na altura do desespero apareceu uma
mulher com uma Bíblia e falou: -filho conheça a verdadeira Bíblia, você não
precisa de fazer isso!!!
Teve pessoas que nos tentavam
atropelar! Mas nada disso abalou minimamente a caminhada!
Para fazer a peregrinação
abandonei-me de tudo, todos os luxos e comidades, dormi debaixo de arvores, no
asfalto e na terra! Mas em momento algum senti desconforto, nunca me faltou
água e não passei fome em momento algum, o único dinheiro que gastei foram R$4
num gatorade. Tudo Deus e Nossa Senhora providenciaram para mim!
Foi dos momentos mais intensos e
emocionantes da minha vida!
Grande abraço!
Nuno Aguiar